Eu provei o tudo e provei o nada,
Provei amizades e amores,
Provei o beijo!
Proveio o escarro de Augusto dos Anjos...
Provei as formas de Picasso e as cores de van Gogh
Provei a poesia de Pessoa e a música de Chopin.
Só provei...
sexta-feira, 29 de junho de 2012
O POETA COME AMENDOIM (a Carlos Drummond de Andrade)
Noites pesadas de cheiros e calores amontoados...
Foi o Sol que por todo o sítio imenso do Brasil
Andou marcando de moreno os brasileiros.
Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer...
A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas dos mulatos...
Silêncio! O Imperador medita os seus versinhos.
Os Caramurus conspiram na sombra das mangueiras ovais.
Só o murmurejo dos cre’m-deus-padre irmanava os homens de meu país...
Duma feita os canhamboras perceberam que não tinha mais escravos,
Por causa disso muita virgem-do-rosário se perdeu...
Porém o desastre verdadeiro foi embonecar esta República temporã.
A gente ainda não sabia se governar...
Progredir, progredimos um tiquinho
Que progresso também é uma fatalidade...
Será o que Nosso Senhor quiser!...
Estou com desejos de desastres...
Com desejos do Amazonas e dos ventos muriçocas
Se encostando na cangerana dos batentes...
Tenho desejos de violas e solidões sem sentido
Tenho desejos de gemer e de morrer.
Brasil...
Mastigado na gostosura quente do amendoim...
Falado numa língua curumim
De palavras incertas num remeleixo melado melancólico...
Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons...
Molham meus beiços que dão beijos alastrados
E depois murmuram sem malícia as rezas bem nascidas...
Brasil amado não porque seja a minha pátria,
Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...
Brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas amores e danças.
Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,
Porque é o meu sentimento pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.
Mário de Andrade
Foi o Sol que por todo o sítio imenso do Brasil
Andou marcando de moreno os brasileiros.
Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer...
A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas dos mulatos...
Silêncio! O Imperador medita os seus versinhos.
Os Caramurus conspiram na sombra das mangueiras ovais.
Só o murmurejo dos cre’m-deus-padre irmanava os homens de meu país...
Duma feita os canhamboras perceberam que não tinha mais escravos,
Por causa disso muita virgem-do-rosário se perdeu...
Porém o desastre verdadeiro foi embonecar esta República temporã.
A gente ainda não sabia se governar...
Progredir, progredimos um tiquinho
Que progresso também é uma fatalidade...
Será o que Nosso Senhor quiser!...
Estou com desejos de desastres...
Com desejos do Amazonas e dos ventos muriçocas
Se encostando na cangerana dos batentes...
Tenho desejos de violas e solidões sem sentido
Tenho desejos de gemer e de morrer.
Brasil...
Mastigado na gostosura quente do amendoim...
Falado numa língua curumim
De palavras incertas num remeleixo melado melancólico...
Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons...
Molham meus beiços que dão beijos alastrados
E depois murmuram sem malícia as rezas bem nascidas...
Brasil amado não porque seja a minha pátria,
Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...
Brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas amores e danças.
Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,
Porque é o meu sentimento pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.
Mário de Andrade
sexta-feira, 15 de junho de 2012
"Cuando los árboles dejan de ser árboles y la noche te da miedo.
Y temer es una consecuencia de ser. Coge tu bicicleta y huye.
Toma el camino de Lund, que es calmo y transitado.
No te detengas jamás. Olvida tu casa. Sólo pedalea.
Avanza y fíjate en quién eres cuando estés en ese lugar sin nombre que media entre Temor y Nada. Sonríe también." H. Lorentz.
Y temer es una consecuencia de ser. Coge tu bicicleta y huye.
Toma el camino de Lund, que es calmo y transitado.
No te detengas jamás. Olvida tu casa. Sólo pedalea.
Avanza y fíjate en quién eres cuando estés en ese lugar sin nombre que media entre Temor y Nada. Sonríe también." H. Lorentz.
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