quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Soneto do Só

Depois foi só. O amor era mais nada
sentiu-se pobre e triste como Jó
Um cão veio lamber-lhe a mão na estrada
espantado, parou. Depois foi só.

Depois veio a poesia ensimesmada
Em espelhos. Sofreu de fazer dó
Viu a face de Cristo ensanguentada
Da sua, imagem - e orou. Depois foi só.

Depois veio o verão e veio o medo
Desceu de seu castelo até o rochedo
Sobre a noite e do mar lhe veio a voz.

A anunciar os anjos sanguinários...
Depois cerrou os olhos solitários
E só então foi totalmente a sós.


Vinicius de Moraes
Rio, 1946

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