domingo, 29 de junho de 2008

Garapa

Como pode o sorriso
ainda abrigar o rosto
deste povo sofrido
Crianças doces
alimentadas com garapa
uma mistura de
água amarelada
como a caatinga seca
com açúcar
que adoça
a vida deste povo esquecido
famílias grandes
onze filhos
Maria não tem bolsa família
Maria não tem RG
tem nome...
As crianças brincam
com latas
e com a cabra magra
que ainda resiste a
seca comendo lixo
José em pé
com os filhos agarrados
a sua calça surrada
gentilmente me oferece água
pra matar a sede
Com olhos fundos
Tem fé
Se Deus quiser...
diz ele
esperançoso pela mudança
Homem que trabalha
o dia inteiro
a procura de palma
vegetal espinhoso
da caatinga
Enquanto os pais
buscam soluções
pra matar a fome
as crianças usam a criatividade
com brincadeiras comum
Francisco o mais novo
desnutrido
luta contra as moscas
que se alimentam
do resto de garapa
derramado pelo
seu corpo magro
A tarde se vai
Apagam-se os candeeiros
dormem cedo
pra não sentirem a fome
que parece dominar suas vidas.

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