terça-feira, 25 de maio de 2010


O fotógrafo

Defícil fotografar o silêncio. Entretanto tentei. eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa. Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei a minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
fotografei sobre. Foi difícil fotografar sobre.
Por fim eu enxerguei a Nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com
Maiakovski - seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mindo faria uma roupa mais justa para
cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.
Manoel de Barros






segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sobre Fotografia

"O fotógrafo tem a mesma função dos poetas: eternizar o momento que passa"
Mário Quintana

Quando o poeta evidencia uma das proezas dessa arte tão presente neste século, que é a
preocupação pela memória; isso nos tem transformado em admiradores da fotografia que
é o ato de guardar os momentos.
Porém poucos são como os poetas que não estão compromissados em guardar atividades sociais, tal como a festa de aniversário de um ano de seu filho.
O momento que o poeta cita é algo mais "profundo", é o apropriar-se da coisa fotografada,
violar as pessoas ao vê-las como elas nunca foram vistas, ou nunca se viram.
É fotografar o silêncio que emana de rosto coberto pela mão calejada de um morador do assentamento de sem terras no nordeste das Minas Gerais; registrar a perseverança do pescador ao tentar lutar contra o mar revolto em Saquarema, no Rio de Janeiro, que junto às chuvas das últimas semanas devastou também o cemitério mais antigo da cidade; ou quem sabe uma simples imagem com essência amadora de uma bicicleta encostada em uma árvore no Litoral Norte de São Paulo.
Talvez se voltássemos no tempo, a bicicleta não estaria mais lá, pois o momento é algo imprescindivel, mutável e essa é uma das funções da fotografia eternizar o sentimento, a beleza e o movimento.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Na fotografia como na pintura, o cenário faz parte do todo.
Aqui o vemos em sua essência, a natureza crua e nua. Com seus acontecimentos naturais, seja nos Cânions do Sul, no anoitecer da Argetina, na praia de Paúba ou até mesmo na intervenção humana que recria na paisagem algo de mecânico do fazer humano, entre elas a construção giganstesca das missões Jesuíticas no Sul do Brasil, hoje em ruínas e do castelo de São Jorge em Lisboa.