segunda-feira, 29 de julho de 2013

“A única coisa que se deveria fazer era acomodar-se à situação tal como se apresentava. Mesmo quando fosse possível melhorar alguns pormenores – o que, porém, era uma louca ilusão – no melhor dos casos apenas se teria obtido algo que poderia valer para os futuros processos enquanto que o sujeito se teria prejudicado incalculavelmente ao chamar sobre si a especial atenção dos funcionários e despertar neles um rancoroso desejo de vingança. Não! Era preciso não chamar a atenção! Era preciso comportar-se com serenidade mesmo quando se estivesse a ponto de ficar louco. Era necessário procurar compreender que esse grande organismo de justiça era de certo modo eterno em suas flutuações, que se alguém pretendia mudar nele alguma coisa era como tirar-se ele próprio o solo de sob os seus pés e que ele mesmo é que se precipitava na queda enquanto que o grande organismo, vendo-se apenas muito ligeiramente afetado por isso, conseguiria facilmente uma peça de reposição (sempre dentro de seu mesmo sistema) e permaneceria imutável se não acontecia que – e isto era até o mais verossímil – se tornava ainda mais fechado, ainda mais atento a tudo quanto acontecia, ainda mais severo, ainda pior.”

(O processo, Franz Kafka)

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