segunda-feira, 8 de julho de 2013



No mês passado completei mais um ano de vida e esses momentos sempre nos levam a refletir (pelo menos comigo). 
Então resolvi fazer um balanço a partir de um Erick de 10 anos atrás (parti dessa data, por ser um período importante da minha vida) e percebi que muita coisa mudou: uso menos roupas (calma! só uma blusa por exemplo rs) gosto muito mais de ler, de ouvir música de todo canto (mas repito minhas preferidas sempre), ver e rever filmes, ir ao cinema sozinho ou acompanhado. Descobri também, que antigamente falava mais e sobre tudo, era um preconceituoso desmedido e só a "minha" verdade era verdade, bobo eu... 
Hoje prefiro o silêncio, mas continuo falando,quando me sinto à vontade e com quem posso compartilhar algo bom! 
Com o tempo, fui perdendo o medo, fiquei mais irônico, aprendi que as pessoas que mais falam são as que menos fazem, percebi também que os "grandes de verdade" admiram os pequenos, e que humildade não tem nada ver, com andar cabeça baixa; Que quem sempre foi servido, não entende o que é servir...
Me emocionei quando descobri que eu também posso escrever poesias, que tenho amigos espalhados pelo mundo, que me escrevem regularmente. Aprendi que o melhor do viajar é ter para onde voltar. 
Hoje entendo mais de política, vejo menos novela, tomo uma taça de vinho...
Hoje, percebo as pessoas pelo olho, e não me canso de conhecer gente nova. Acredito piamente que aqueles que defendem os animais, deveriam também ser mais gentis com o porteiro. Me canso de gente que só reclama, que só fofoca, que não se move e põe a culpa no outro. 
Hoje corro mais riscos, corro mais, risco muito mais, faço desenhos... 
Cozinho mais, me sentindo um grande chefe! vivo mais o ócio e não paro de pensar, de amar e de sonhar. 
Aprendi que é sempre bom planejar uma viagem, mas que melhor ainda é sair sem rumo.
Cada vez entendo menos de arte e de pessoas, mas continuo amando... percebi que gritar por uma sociedade mais justa me faria mais realizado.
Descobri também que amigos são diferentes de colegas, que um beijo nem sempre é paixão e que dinheiro não é tudo que precisamos. 
Que Deus é justo, mas a religião segrega...
Aprendi aqui, ensinei lá, descordei ali, mas sempre, sempre procurei saber.
Os parques, as ruas, os museus, os bares, igrejas, aviões, em todo esses lugares vi o novo e me vi...
Hoje não tenho muitas certezas, mas admiro algumas verdades e muitas pessoas. Aliás são essas pessoas, que me fazem ser eu, sou influenciado (e devo influenciar, sem pretensão) sinto saudades, leio e penso nelas, ouço música e a letra é sobre elas, compro um vinho e quero beber junto, são histórias, da minha história, são amigos de longe e de perto, amigos que creem ou sem esperanças, mas é com eles que vou completando anos, e sonhos...

Obrigado pelo seu carinho! 

sábado, 26 de janeiro de 2013

São Paulo maltrata muito sua gente


Tudo nessa cidade é grande...
Entrei no elevador, que voltava do 22° andar, eu vivia no 9°, no andar de baixo entra um moço com roupa de ginástica, no 3° um chinês, mais de 3.000 mil pessoas moram nesse prédio, ricos e pobres, mas cada um com sua entrada, São Paulo fingi que anda junto!
Saio do prédio e me deparo com uma imensidão de bicicletas: a Paulista virou ciclovia!
Caminho pela larga e mais importante Avenida do Brasil, vou em direção a Consolação até a livraria e na entrada da loja cadeiras de praias são ocupadas por leitores que parecem não se preocuparem com a multidão de gente que passa ou com a fila no cinema, a praia do Paulista é mesmo um mar de gente.
Depois de olhar alguns discos saio da livraria e desço a Augusta, rua conhecida pelos cinemas, baladas e prostitutas, lugar onde todas as tribos se misturam à procura de festa e distração.
Olho filmes na calçada em uma barraca improvisada com papelão, o vendedor gentil mais impaciente, preocupado com a possível aparição de um policial me mostra sua grande variedade de filmes, cidade que trabalha com medo de ser presa.
Volto para a Paulista e caminho entre turistas e paulistas, sigo em direção ao Paraíso, minha barriga ronca, é preciso comer algo rápido, um grande paradoxo na cidade onde se pode comer pratos do mundo todo, mas com as maiores filas do mundo.
Viro a esquina e na entrada da Brigadeiro uma senhora estende a mão pedindo algo para comer, alguns passos e um garoto jovem estendido no chão volve seu olhar a mim, atravesso a rua e um grupo de mulheres com seus filhos, muitos! Pedem dinheiro para comprar comida.
O árabe onde gosto de comer, está fechado então entro no buteco do lado e peço uma coxinha. Com a malas porque estava a cominho de Suzano, um senhor se aproxima de mim e me diz: “ Please, Do you speak english?
e contninua andando até chegar no seu lugar, uma calçada onde vive na rua. São Paulo maltrata muito sua gente.
Desço o buraco do metrô e sigo a caminho da região metropolitana, na estação da Luz uma multidão espera o trem, gente que viaja todos os dias, para servir uma São Paulo rica, que esquece das suas ruas, do metrô lotado, do centro velho e quando lembra, compara... com a Europa e Nova Iorque. Mas esquece que a cidade é feita por nós, nossas escolhas e omissões, quem maltrata essa gente somos nós... Nós que odiamos e amamos São Paulo.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Lutas - Caetano Veloso

Enquanto escrevo (às pressas para não perder o voo para a Bahia), meus amigos do Rio estão guardando a Aldeia Maracanã, que recebeu, com a permissão finalmente dada por Eduardo Paes, o que parece ser um golpe fatal. Eu quase que ainda sou do tempo do Largo do Maracanã da valsa, anterior à construção do estádio Mário Filho (só o Nelson Rodrigues chamava o estádio pelo nome oficial). Maracanã, esse nome indígena das aves verdes que soam como chocalhos espargidos no ar. Cuiubas, maitacas e maracanãs passavam pelo céu de Santo Amaro na minha meninice. Será que a vulgaridade que ronda a atual administração estadual (sublinhada pela municipal) vai tomar conta do entorno do Maraca? Um prédio que foi o Museu do Índio, que tem a história ligada ao glorioso Marechal Rondon e que hoje se chama Aldeia Maracanã não pode ser posto abaixo. Ou será que já devo escrever “não poderia ter sido posto abaixo”?
Meus amigos de São Paulo lutam pela dignidade das vítimas de chacinas e de casos de “resistência seguida de morte”. Essas vítimas são, em sua grande maioria, jovens pretos. Em sua totalidade, pobres. Quando e como virá a segunda abolição? Minha amada Regina Casé diz que, se perguntada por sua definição política, responderia: “Sou abolicionista.”
Houve um esboço de planejamento federal da segurança pública no primeiro governo Lula. Luiz Eduardo Soares era uma espécie de quase-ministro. Mas jogaram-no fora. No Rio, meu amigo Marcelo Freixo (essa grande figura pública brasileira) me contou que Beltrame, cuja atuação valoriza o governo Cabral, foi indicação de Lula. Beltrame é um gaúcho cuja passagem pelo Rio não será esquecida. Esperamos que o que há de bom em suas ideias e em seu tom possa seguir sendo aproveitado pelo poder que o convidou. Que a vulgaridade não seja mais forte do que a inspiração que, segundo minha fofoca de alto nível, veio de Lula em pessoa.
Em São Paulo não há nada semelhante. E todo o avanço de superação dos índices de criminalidade é negado pelo que parece uma falência da política de segurança do governo tucano. Bem, os indicadores que davam (dão?) esperança terminam parecendo uma força benéfica misteriosa, atribuível a fatores como envelhecimento da população e outros fatos estatísticos, levando-nos a descartar quaisquer méritos do trabalho do estado. Pessoalmente não creio na nulidade da atuação governamental, mas os últimos acontecimentos (depois do longo histórico que vem de Carandiru e passa pelas chacinas de 2006) induzem a ver o papel do governo paulista apequenado. Refém de uma guerra fora da lei entre a polícia e uma organização criminosa. A voz de Mano Brown e dos Racionais (liderando um mundo de rappers) esteve sempre — e está — levantada contra a brutalidade. Que os governos estadual e federal afinem com o que há de sábio nessa voz.
Foi Regina Casé (olhe ela outra vez aí) quem me mostrou. O leitor pode encontrar no YouTube se escrever “O redemoinho (SWIRL)”. É um dos mais belos filmes brasileiros recentes. Tem o que há de forte em “Avenida Brasil” e em “O som ao redor”. É apenas um vídeo amador familiar que, sendo ele mesmo um milagre, versa sobre uma situação milagrosa. Uma família goiana faz um piquenique no que parece ser uma praia lacustre (ou será um trecho represado de rio?). (O rapaz que filma e comenta pronuncia a palavra “tornadinho” de modo reconhecivelmente mineiríssimo, mas, para efeitos de sotaque, Goiás é o grande Minas, além de, como Guimarães Rosa, o rapaz usar também a forma “redemunho”.) Ele acaba de perder um redemoinho que diz ter tentado filmar. Outro se inicia. Ele tenta acompanhá-lo com a câmera. O que se segue é sempre de grande beleza — e representatividade dos movimentos que se passam na sociedade brasileira. O grupo (com a mãe evangélica de short curtíssimo, do qual se desculpa mas termina argumentando que Deus nos criou nus; o primo que não é “politicamente correto” por não aderir à ideia de que “todo mundo é bonito” e mostrar uma garrafa de cerveja; a namorada, bonita, que comenta, com um misto de pudor e malícia, que há belezas “diferentes”; a criança obesa) é muito típico: numa obra de ficção teria sido um grande conseguimento armar um quadro tão representativo e manter tão alto nível de naturalismo e encanto visual. O zoom no cavalo branco no momento em que a mãe cita o pacto entre Deus e Noé é de arrepiar. Nem vou falar mais. É melhor ver. Dura apenas seis minutos. Já vi inúmeras vezes. Muita gente viu (quase 900 mil pessoas). Certamente o apelo religioso congregou a maior parte desssa plateia. Mas suponho que, como Regina e eu, muitos foram dar uma olhada meramente curiosa e se maravilharam.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/lutas-7344994#ixzz2IWZJpIud
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sábado, 8 de dezembro de 2012




"Ouça minha oração
Que se fez cantiga
Canção pra acordar
Se deus aceitar cantiga
Minha oração deus não perderá jamais"

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O comunismo ético de Oscar Niemeyer

Sua grandeza não reside apenas na sua genialidade, reconhecida e louvada no mundo inteiro. Mas na sua concepção da vida e da profundidade de seu comunismo
Por Leonardo Boff

Não tive muitos encontros com Oscar Niemeyer. Mas os que tive foram longos e densos. Que falaria um arquiteto com um teólogo senão sobre Deus, sobre religião, sobre a injustiça dos pobres e sobre o sentido da vida?
Nas nossas conversas, sentia alguém com uma profunda saudade de Deus. Invejava-me que, me tendo por inteligente (na opinião dele) ainda assim acreditava em Deus, coisa que ele não conseguia. Mas eu o tranquilizava ao dizer: o importante não é crer ou não crer em Deus. Mas viver com ética, amor, solidariedade e compaixão pelos que mais sofrem. Pois, na tarde da vida, o que conta mesmo são tais coisas. E nesse ponto ele estava muito bem colocado. Seu olhar se perdia ao longe, com leve brilho.

Impressionou-se sobremaneira, certa feita, quando lhe disse a frase de um teólogo medieval: “Se Deus existe como as coisas existem, então Deus não existe”. E ele retrucou: “mas que significa isso?” Eu respondi: “Deus não é um objeto que pode ser encontrado por ai; se assim fosse, ele seria uma parte do mundo e não Deus”. Mas então, perguntou ele: “que raio é esse Deus?” E eu, quase sussurrando, disse-lhe: “É uma espécie de Energia poderosa e amorosa que cria as condições para que as coisas possam existir; é mais ou menos como o olho: ele vê tudo mas não pode ver a si mesmo; ou como o pensamento: a força pela qual o pensamento pensa, não pode ser pensada”. E ele ficou pensativo. Mas continuou: “a teologia cristã diz isso?” Eu respondi: “diz mas tem vergonha de dizê-lo, porque então deveria antes calar que falar; e vive falando, especialmente os Papas”. Mas consolei-o com uma frase atribuída a Jorge Luis Borges, o grande argentino:”A teologia é uma ciência curiosa: nela tudo é verdadeiro, porque tudo é inventado”. Achou muita graça. Mais graça achou com uma bela trouvaille de um gari do Rio, o famoso “Gari Sorriso: “Deus é o vento e a lua; é a dinâmica do crescer; é aplaudir quem sobe e aparar quem desce”. Desconfio que Oscar não teria dificuldade de aceitar esse Deus tão humano e tão próximo a nós.

Mas sorriu com suavidade. E eu aproveitei para dizer: “Não é a mesma coisa com sua arquitetura? Nela tudo é bonito e simples, não porque é racional mas porque tudo é inventado e fruto da imaginação”. Nisso ele concordou adiantando que na arquitetura se inspira mais lendo poesia, romance e ficção do que se entregando a elucubrações intelectuais. E eu ponderei: “na religião é mais ou menos a mesma coisa: a grandeza da religião é a fantasia, a capacidade utópica de projetar reinos de justiça e céus de felicidade. E grande pensadores modernos da religião como Bloch, Goldman, Durkheim, Rubem Alves e outros não dizem outra coisa: o nosso equívoco foi colocar a religião na razão quando o seu nicho natural se encontra no imaginário e no princípio esperança. Ai ela mostra a sua verdade. E nos pode inspirar um sentido de vida.”

Para mim a grandeza de Oscar Niemeyer não reside apenas na sua genialidade, reconhecida e louvada no mundo inteiro. Mas na sua concepção da vida e da profundidade de seu comunismo. Para ele “a vida é um sopro”, leve e passageiro. Mas um sopro vivido com plena inteireza. Antes de mais nada, a vida para ele não era puro desfrute, mas criatividade e trabalho. Trabalhou até o fim, como Picazzo, produzindo mais de 600 obras. Mas como era inteiro, cultivava as artes, a literatura e as ciências. Ultimamente se pôs a estudar cosmologia e física quântica. Enchia-se de admiração e de espanto diante da grandeur do universo.

Mas mais que tudo cultivou a amizade, a solidariedade e a benquerença para com todos. “O importante não é a arquitetura” repetia muitas vezes, “o importante é a vida”. Mas não qualquer vida; a vida vivida na busca da transformação necessária que supere as injustiças contra os pobres, que melhore esse mundo perverso, vida que se traduza em solidariedade e amizade. No JB de 21/04/2007 confessou: ”O fundamental é reconhecer que a vida é injusta e só de mãos dadas, como irmãos e irmãs, podemos vive-la melhor”.

Seu comunismo está muito próximo daquele dos primeiros cristãos, referido nos Atos dos Apóstolos nos capítulos 2 e 4. Ai se diz que “os cristãos colocavam tudo em comum e que não havia pobres entre eles”. Portanto, não era um comunismo ideológico mas ético e humanitário: compartilhar, viver com sobriedade, como sempre viveu, despojar-se do dinheiro e ajudar a quem precisasse. Tudo deveria ser comum. Perguntado por um jornalista se aceitaria a pílula da eterna juventude, respondeu coerentemente: “aceitaria se fosse para todo mundo; não quero a imortalidade só para mim”.

Um fato ficou-me inesquecível. Ocorreu nos inícios dos anos 80 do século passado. Estando Oscar em Petrópolis, me convidou para almoçar com ele. Eu havia chegado naquele dia de Cuba, onde, com Frei Betto, durante anos dialogávamos com os vários escalões do governo (sempre vigiados pelo SNI), a pedido de Fidel Castro, para ver se os tirávamos da concepção dogmática e rígida do marxismo soviético. Eram tempos tranquilos em Cuba que, com o apoio da União Soviética, podia levar avante seus esplêndidos projetos de saúde, de educação e de cultura. Contei que, por todos os lados que tinha ido em Cuba, nunca encontrei favelas mas uma pobreza digna e operosa. Contei mil coisas de Cuba que, segundo Frei Betto, na época era “uma Bahia que deu certo”. Seus olhos brilhavam. Quase não comia. Enchia-se de entusiasmo ao ver que, em algum lugar do mundo, seu sonho de comunismo poderia, pelo menos em parte, ganhar corpo e ser bom para as maiorias.

Qual não foi o meu espanto quando, dois dias após, apareceu na Folha de S. Paulo, um artigo dele com um belo desenho de três montanhas, com uma cruz em cima. Em certa altura dizia: “Descendo a serra de Petrópolis ao Rio, eu que sou ateu, rezava para o Deus de Frei Boff para que aquela situação do povo cubano pudesse um dia se realizar no Brasil”. Essa era a generosidade cálida, suave e radicalmente humana de Oscar Niemeyer.

Guardo uma memória perene dele. Adquiri de Darcy Ribeiro, de quem Oscar era amigo-irmão, uma pequeno apartamento no bairro do Alto da Boa-Vista, no Vale Encantado. De lá se avista toda a Barra da Tijuca até o fim do Recreio dos Bandeirantes. Oscar reformou aquele apartamento para o seu amigo, de tal forma que de qualquer lugar que estivesse, Darcy (que era pequeno de estatura), pudesse ver sempre o mar. Fez um estrado de uns 50 centrímetros de altura e, como não podia deixar de ser, com uma bela curva de canto, qual onda do mar ou corpo da mulher amada. Ai me recolho quando quero escrever e meditar um pouco, pois um teólogo deve cuidar também de salvar a sua alma.

Por duas vezes se ofereceu para fazer uma maquete de igrejinha para o sítio onde moro em Araras, em Petrópolis. Relutei, pois considerava injusto valorizar minha propriedade com uma peça de um gênio como Oscar. Finalmente, Deus não está nem no céu nem na terra, está lá onde as portas da casa estão abertas.

A vida não está destinada a desaparecer na morte mas a se transfigurar alquimicamente através da morte. Oscar Niemeyer apenas passou para o outro lado da vida, para o lado invisível. Mas o invisível faz parte do visível. Por isso ele não está ausente, mas está presente, apenas invisível. Mas sempre com a mesma doçura, suavidade, amizade, solidariedade e amorosidade que permanentemente o caracterizou. E de lá onde estiver, estará fantasiando, projetando e criando mundos belos, curvos e cheios de leveza.

- Leonardo Boff é Teólogo e filósofo
http://revistaforum.com.br/blog/2012/12/o-comunismo-etico-de-oscar-niemeyer/

domingo, 2 de dezembro de 2012


 
Uma casa no meio do campo com uma vista para as montanhas,  que se misturava com imagens feitas pelo pintor que ali vivia com sua mulher, restauradora.
Na sala haviam estantes cheias de livros e cds, nas paredes pinturas e fotografias. A mesa era grande, mas éramos muitos e ficamos bem próximos. Montamos a mesa juntos, havia louça bonita, com história interessante de monges que usavam para tomar vinho (Eram como cuias e havia um desenho de um diabinho, então o monge dizia ao outro: Enche de vinho até afogar o diabinho! Mas do lado oposto do diabinho estava escrito Cristo e o monge continuava: Tenho que beber tudo, até aparecer o nome de Cristo! rs).
O cardápio tipicamente espanhol era acompanhado por vinhos: Tinto, rosé e branco (com rótulo pintado pelo artista dono da casa) ótimos por sinal.
Sorrimos, falamos de arte, política, música (claro que ouvimos música brasileira) e de como é bonito ver as árvores nuas no frio do Outono e o chão das ruas forrado por folhas de multicores, algo que não se vê no Brasil e que para mim é mais que belo, significa câmbio, tempo de mudança, de reflexão...
Mas o que mais me impressionou foi o pão: grande e circular, com um aroma delicioso e feito no "pueblo", passávamos de mão em mão, a pessoa tirava seu pedaço e passava para outro e assim sucessivamente, com toda a beleza que tem o compartir o pão nos ligava, não deixava que ninguém fosse excluído da conversa, das risadas do olhar. O pão ali me remetia a tudo que compartilhei e recebi durante o período longe do Brasil. E também de como aquele alimento fazia com que fossemos iguais, dividindo um dos momentos mais importantes e bonitos do ser humano: "O comer junto", seja no Brasil ou Segóvia, a mesa, o pão e o compartir não tem nacionalidade, raça ou credo!

sábado, 24 de novembro de 2012


Tinha cabelos negros e compridos, olhos verdes e barba grande a roupa escura e suja e os pés encardidos e descalços.
Ele vinha em nossa direção, com olhar perdido como se buscasse algo, lhe oferecemos um café, aceitou.
Buscou um lugar no chão e se sentou, lhe demos um bocadillo, e ele o desembrulhava como se abrisse um tesouro, sério, "dava" mordidas grandes e engolia
mantando uma fome que parecia ser de muito tempo, fazíamos perguntas banais, nos apresentamos e ele nos contestava de maneira forte e curta.
Bebeu todo o café, lhe demos um suco, croissant e uma banana.
Perguntamos onde estavam seus sapatos, ele respondeu que haviam roubado.
Fazia muito frio e uma companheira do grupo perguntou quanto ele calçava; 41, era tomando daqueles pés que perambulavam por todas cidade e que eu via todas as vezes que passava pela rua do centro de Madrid, onde ele sempre estava curvado, com o rosto no chão, pedindo dinheiro.
A companheira, decidiu ir comprar sapatos para o homem que continuava comendo. Nosso diálogo era lento e de poucas palavras, os cabelos cobriam metade do seu rosto ainda jovem e com marcas de alguém que sorrio pouco na vida...
Uma mulher se aproximou, nos perguntou se passava algo, respondemos que não, que estava tudo bem, ela nos deixou um 1 euro.
Aquela mulher como eu e como muitos outros, nunca havia percebido a existência daquele rapaz no seu caminho, mas ao vê-lo, rodeado por gente limpa e de cara boa, ficou curiosa. Nos viu e depois o viu.
A companheira voltou depois de alguns minutos com um sapato novinho e meias, o jovem rapaz abriu um sorriso, que tenho certeza foi o maior ato de gratidão que ja presenciei, e rapidamente como uma criança que ganha um brinquedo calçou as meias e os sapatos e nós perguntávamos se estava confortável, se estava bem e ele respondia que sim que estava perfeito e repetia: Muchas Gracias, Muchas gracias!